Sabe de uma coisa?
A sua partida deixou uma alma vazia e perturbada, deixou também um semblante triste e um olhar frequentemente cheio d’água. Por onde passo, temo que as pessoas desconfiem do meu interior oco. Me questiono quais delas também carregam um coração desiludido e fraco.
Não sei como nem com quem dividir a minha dor.
Não sei onde buscar um olhar amigo... Chego a duvidar que consigam minimamente compreender o que eu sinto e me impressiono ainda hoje com a dimensão de tudo que se passa aqui dentro.
Mas você não volta, a chuva não para de cair, o vento está machucando as plantas...
A minha voz permanece desafinada e sem direção, as miragens do meu pensamento levemente embassadas e distantes. Me desespero ao pensar que minha memória pode te apagar. Mesmo depois de tudo não quero me esquecer do seu lindo rosto, nem da sua voz têxtil. Dói tanto perder o combustível que te move por completo e que acende sua alegria.
Trocar a felicidade pela dor, a coragem pelo medo, a esperança pela inércia apática dos dias que passam pelas semanas sem vida e calor.
Aperto suas lembranças contra o peito e me permito chorar em posição fetal. Permito meu corpo deitar-se no chão frio e experimentar um pouco da pedra de que se constitui seu ser. Gélido, duro e vazio. Lágrimas o tocam mas nada acontece! Elas nem secam. Digo que te amo e você me responde ‘bom dia’. Te mostro o quanto me és caro e me dizes que morreria apenas pela sua arte. Sentimento com destinatário errado, lágrimas que deveriam cair na terra para germinar e não no concreto para fazer com que alguém escorregue e machuque. Infelizmente pisei em falso, escorreguei e me machuquei.
‘A impressão que tenho é que nunca vai passar.
Que a cicatriz não fecha. Que só de esbarrar, sangra.’
[CFA]